Entrevista a George Sandeman

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Entrevista a George Sandeman

“A rolha é fundamental, pois deixa o vinho evolucionar”

George Sandeman, Chairman da House of Sandeman, é o primogénito da sétima geração desta família, ligada ao comércio dos Vinhos do Porto e do Sherry. Em 1790, um antepassado da família Sandeman, o escocês George Sandeman, decidiu entrar no negócio de vinhos. Para saber mais sobre este mundo, comprou um lote de vinho em Londres…

George Sandeman

“Naquela altura, os negócio interessantes não eram tanto os com vinhos franceses, mas sim os negócios com vinhos da Península Ibérica, como o Sherry (Xerez) e o Vinho do Porto. Como comerciante, e não como produtor, inaugurou uma adega no Xerez, e posteriormente no Porto” explica George Sandeman.

“Desde essa altura, até aos dias de hoje, a minha família manteve-se sempre no sector dos vinhos. As relações familiares reforçaram esta ligação ao mundo vinícola. O meu tetravô casou com uma portuguesa, da família Morais Sarmento, reforçando a ligação com Portugal, e o meu pai casou-se com uma jerezana, da familia Valdespino, consolidando o vínculo com Espanha”, afirma o Chairman da House of Sandeman.

George Sandeman é, também, Presidente do Comité de Vins – orgão da União Europeia, sediado em Bruxelas – e da Associação de Empresas do Vinho do Porto. Esta associação representa os interesses de empresas associadas, que no seu conjunto, definem 85% do volume comercial do Vinho do Porto.

Como presidente desta associação, George Sandeman coordena as actividades junto do Governo português e de outras instituições, como o Instituto da Vinha e do Vinho, e desenvolve, em simultâneo, uma estratégia empresarial para todo o sector vinícola.

George Sandeman nasceu em Londres, mas fixou-se em Portugal. O empresário recorda os seus primeiros passos: “Como é habitual, estagiei na produção, em Jerez de la Frontera e na cidade do Porto, o que me permitiu conhecer ambos os processos de elaboração dos vinhos; mas, rapidamente me especializei na área de marketing comercial.” Na sua trajectória profissional, George Sandemann chegou ao cargo de Vice-Presidente de Marketing da Seagram Château & Listate Wines Company, em Nova Iorque.

George Sandeman exprime a sua opinião sobre as rolhas de cortiça usadas no Vinho do Porto: “Obviamente, a rolha de cortiça é importante porque conserva o vinho dentro da garrafa. Mais especificamente, em vinhos clássicos classificados para envelhecimento, como é o caso do “Vintage Port“, a rolha é fundamental, pois deixa o vinho evolucionar e respirar nas melhores condições. Considero que hoje, as rolhas são de qualidade superior à qualidade das que se faziam há uma década atrás. A razão desta melhoria, creio que se deve ao facto da oferta e da procura estarem mais equilibradas – e de existir um maior controlo de qualidade, que permite melhores rolhas para vinhos que o mereçam”.

Em relação às rolhas que se utilizam no Vinho do Porto, George Sandeman mostra o seu lado pragmático: “Gosto de segmentar para clarificar. É evidente que não se deve utilizar num vinho que se vá beber nos próximos três meses a mesma rolha que naquele que está destinado a ser bebido nas próximas décadas; por isso, em alguns vinhos mais jovens, utilizamos rolhas não clássicas, aglomeradas e capsuladas”, explica.

“Penso que a rolha é um recurso natural, e os sobreiros não crescem de um dia para o outro, pelo que é impossível utilizar sempre rolhas da melhor qualidade para todos os tipos de vinhos. É ainda necessário referir que a maioria dos vinhos à venda no mercado se bebe no ano seguinte ao engarrafamento. Cada vez menos os vinhos estão destinados ao envelhecimento. Daí que a rolha de qualidade superior deva ser utilizada para vinhos que vão envelhecer na garrafa, como é o caso dos Vintage Port. Podemos então começar a falar sobre a segmentação dos diferentes tipos de vinhos”.

George Sandeman tem igualmente formada a sua opinião sobre os vedantes sintéticos: “Eu não acredito que seja prático utilizar material sintético, pois levanta problemas ao nível da reciclagem. Ora, num mundo cada vez mais preocupado com o meio ambiente, a imagem do plástico não funciona. A rolha, sem dúvida, é um produto natural, que não implica o abate de sobreiros, não é poluente e não altera a paisagem. A cortiça é retirada da árvore, de nove em nove anos, e de uma forma natural, o sobreiro regenera-se”.

O Chairman explica: “Para mim, a rolha de cortiça dá uma associação mental à qualidade. No entanto, os empresários do sector da cortiça devem fazer um esforço para desenvolver mais e melhor investigação – de modo a minorar e a eliminar as possíveis contaminações do vinho.”

O Chairman da House of Sandeman comenta, que quando nos restaurantes lhe dão a rolha para ver, gosta de confirmar se a rolha tem o mesmo nome do vinho, pois o vedante deve estar de acordo com o que diz a etiqueta da garrafa. “Em qualquer caso, prefiro cheirar o vinho a cheirar a rolha”, conclui.

Esta entrevista foi conduzida por Alfredo Hervías y Mendizábal.

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