Entrevista a Maria Ribeiro Telles
Sou fascinada pela material cortiça
Maria Ribeiro Telles, pintora e escultora
Encontrada um pouco por acaso, a cortiça começou a fazer parte das pinturas e esculturas de Maria Ribeiro Telles. Natural de Coruche, a artista associa a riqueza da textura, a leveza do material e os valores cromáticos a uma abordagem estética mais contemporânea e faz nascer peças originais.
APCOR – Há quanto tempo desenvolve o seu trabalho?
Maria Ribeiro Telles – Formei-me na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL) durante os anos 80 e fiz a primeira exposição individual em 1992.
Que tipo de peças é que elabora?
Desde então o meu trabalho desenrolou-se em torno da pintura de onde nunca consigo desligar os sentimentos da parte formal e dos elementos que a constituem.
Pinto sempre sobre a memória de um tema, seja ele real (uma paisagem) ou um simples sentimento. Procuro reconstitui-los no meu imaginário, acontecendo na maioria das vezes uma fusão entre os registos figurativos e abstractos ficando em aberto um espaço de liberdade interpretativa.

Como nasceu este gosto por incluir a cortiça nos seus trabalhos de escultura?
A Cortiça apareceu como «objet trouvé» no sentido literal de objecto encontrado.
Contando um pouco da história. Depois de terminar a ESBAL passei muitos anos longe do contacto directo com o campo e a viver em várias cidades. Quando voltei às origens de armas e bagagens dei por mim a analisar a natureza como um espectador olha uma obra de arte.
O reencontro com a cortiça, fez-me recordar a lição da “Arte Povora”: privilegiar os materiais naturais e pobres. Explorar, arranjar, compor, afirmar as qualidades do material, foi o ponto de partida para a primeira escultura em cortiça.
O acumular de experiências pictóricas ofereceu-me a possibilidade de perceber que podia explorar a combinação entre a pintura e a escultura.
Foto: Escultura Canção da Terra de Maria Ribeiro Telles
Como caracteriza a cortiça enquanto material? E que outros materiais usa para além da cortiça?
Fiquei completamente fascinada com a «substância» cortiça. A riqueza da textura, a leveza do material e os valores cromáticos são uma linguagem viva que apenas estavam à espera de uma abordagem estética mais contemporânea.
Surgiu, então, a reflexão do modo como a cortiça iria intervir no espaço envolvente, neste caso uma instalação para exterior potenciando as suas características naturais.
Privilegiando a verticalidade, criei três estruturas em ferro que suportam as placas de cortiça bruta, justapostas e cortadas de maneira irregular.
Apenas algumas placas de cortiça são pintadas de azul-marinho criando um rendilhado de cor e transparências.
Apesar de fixas a um eixo de ferro, a leveza da cortiça permite dar mobilidade proporcionando ao visitante interagir com a peça, alterando-a na forma e na cor e explorando o sentido do tacto.
Onde é possível encontrar as peças à venda e ou em exposição?
Neste momento está em fase de apreciação um projecto de pintura em cortiça a realizar no Observatório do Sobreiro e da Cortiça em Coruche e as peças encontram-se no meu atelier.
Que projectos tem pensado para desenvolver e que incluam a cortiça?
Tentar criar um diálogo com a natureza valorizando a intemporalidade da cortiça através de peças de escultura e pintura de várias escalas, em que o espaço interior ou exterior e a obra se influenciam mutuamente.
Perfil

Maria Ribeiro Telles tem 48 anos e é natural de Coruche. Licenciada em Artes Plásticas – Pintura pela Universidade de Lisboa Faculdade de Belas Artes (ULFBA) participou já em inúmeras exposições individuais e colectivas.
A saber: