Entrevista a Peter Symington
A rolha dura longamente
Andrew James Symington chegou a Portugal em 1882, para trabalhar numa empresa têxtil e, em menos de vinte anos, já era sócio da firma inglesa de Vinho do Porto mais antiga: a Warre & Co., fundada em 1670. Actualmente, o seu neto, Peter Symington, é o Presidente do Conselho de Administração do grupo mais poderoso e representativo do sector, que agrupa as marcas Graham’s Dow’s, Quarle Harris, Gould Campbell, Smith Woodhouse, Quinta do Vesúvio e Madeira Wine Company.
Peter Symington conta-nos como começou a sua carreira na companhia em 1964: “Estudei em Inglaterra e depois de passar uns tempos aprendendo sobre vinhos em geral nas regiões de Burdeos, Borgonha e Jerez, cheguei ao Porto. As minhas funções sempre foram na parte da produção: elaboração e compra de vinhos, áreas onde actualmente o meu filho Charles partilha a responsabilidade comigo”. Peter Symington retirar-se-á dentro de dois anos e será sucedido pelo membro mais velho da sua família, pois dito cargo segue o critério de idade, assumindo o membro mais velho em activo tal cargo no conselho de administração.

Com um consumo de mais de 20 milhões de rolhas por ano, no Grupo Symington a preocupação pelo controle de qualidade dos vedantes é enorme. A sua equipa técnica é tão profissional, que outras empresas de vinhos solicitam o apoio para seleccionar as rolhas.
Peter Symington transmite-nos a sua visão: “No Vinho do Porto sempre se utilizou rolha de cortiça. Que eu saiba, ainda hoje não se utiliza outro tipo de vedante. Nós utilizamos para o Vintage o formato tradicional de 45/49 mm, mais conhecido como rolha bordalesa comprida. Exigimos aos nossos fornecedores a melhor qualidade – e mesmo assim submetemos as rolhas a controles exaustivos. Existiu a tendência durante anos de exportar as melhores rolhas para Bordéus e outras regiões de prestígio do mundo, mas actualmente fornecem-nos rolhas excepcionais para os nossos Vintage“.
De facto, a rolha é um elemento fundamental para um vinho como o Vintage, destinado a envelhecer em garrafa durante décadas. Por vezes, o consumidor pergunta se é preciso mudar as rolhas das garrafas de Vintage com mais de 50 anos. O conselho da casa Symington é claro: “Só fazemos a substituição da rolha se verificarmos que existe alguma razão que o justifique, se a vedação não estiver perfeita. Mas, por norma, a rolha mantém-se em boas condições, pelo que a substituição acaba por ser uma excepção. O que temos é cuidado ao tirar a rolha. Por isso, aqui na firma, para abrir os Vintages muito antigos, utilizamos a tenaz, um sistema que aquece o gargalo da garrafa com as tenazes e permite a extracção da parte superior da garrafa duma maneira limpa, sem ter que mexer na rolha. Acho que convém esclarecer um ponto: O facto de que a rolha por vezes não saia inteira, não quer dizer necessariamente que o vinho não esteja em perfeitas condições; a rolha pode ficar tão húmida, que não consiga sai inteira, mas desde que não entre ar, o conteúdo da garrafa não será afectado. Normalmente, uma rolha tem uma durabilidade muito longa; facto que constatamos quando compramos vinhos em leilões e os provamos com clientes em Inglaterra ou nos Estados Unidos, onde abrimos frequentemente vinhos de 80 ou mais anos – com rolhas em bom estado.”
Fora os Vintage, que representam uma percentagem mínima do mercado de Vinho do Porto, a maioria das rolhas que se utilizam, são por norma as capsuladas. Peter Symington explica-nos porquê: “No que diz respeito a vinhos que vão envelhecer em garrafa, penso que é mundialmente reconhecido que precisam de rolhas de cortiça, ideais para o estágio. Em todos os outros Vinhos do Porto envelhecidos em madeira e que vão estar nessas condições mais de 3 anos, utilizamos sempre uma rolha capsulada. Este vedante é muito mais prático para os barmen e para os consumidores, pois podem abrir a garrafa sem saca-rolhas.”
“Na nossa empresa, o consumo de rolhas é de tal ordem que não pode existir rolha topo de gama para todos os vinhos, o que nos obriga a um controle exaustivo da qualidade que praticamente reduz a zero os riscos de contaminação por TCA. Se falássemos em percentagens, não admitimos nem sequer a falha de 1%, que em 20 milhões de rolhas seria inademíssivel. Por isso a nossa fiscalização começa na fábrica de rolhas, já que o problema da rolha é muito superior se não se faz um controle exaustivo. Penso que a indústria rolheira portuguesa tem que investir muito mais dinheiro em encontrar um método de tornar a rolha de cortiça inócua ao TCA, pois basta uma quantidade mínima para estragar completamente o vinho”.
Peter Symington é da opinião que os clientes mais exigentes vêem a rolha de cortiça como sinal de confiança: “Quando o consumidor descobre que um vinho não tem rolha de cortiça, acha estranho e desconfia da qualidade”.
Esta entrevista foi conduzida por Alfredo Hervías y Mendizábal.
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