Entrevista a Vhils

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Entrevista a Vhils

A cortiça tem muitos pontos fortes

Como descreve a sua experiência em trabalhar com a cortiça?

Vhils – Foi muito interessante. A cortiça revelou ser um material com muitos pontos fortes, incluindo ser sustentável, leve e resistente.

Repetia a experiência?

Sem dúvida, já estou aliás a trabalhar nisso.

Que características atribuía à cortiça como material para realização de obras de arte?

Versátil, maleável, resistente, leve, sustentável, aspecto e tonalidades interessantes e variáveis.

Pode fazer uma breve descrição/apresentação da peça? A nível conceptual e material utilizado (dimensões, etc)?

A peça tem 447cm x 450cm x 40cm. A camada base (1a camada) é de aço forrada com folha de cortiça. As restantes 3 camadas são de aglomerado de cortiça.

A peça é uma escultura em grande formato, com base na série “Diorama” que iniciei o ano passado a partir de outro material, o esferovite. Apresenta um recorte intricado de formas geométricas representando o espaço urbano e industrial de onde sobressai uma figura humana. A ideia era fazer uma reflexão sobre a influência que a indústria corticeira tem tido na população local, tanto a nível económico como social, explorando esta interdependência entre indústria, trabalhadores e o crescimento da região. Ou seja, expressa a relação de proximidade entre indivíduos e o espaço urbano e industrial onde vivem e trabalham, sublinhando este ciclo de dependência, desenvolvimento e formação recíprocos. Ao mesmo tempo presta também uma homenagem aos trabalhadores que hoje fazem desta indústria uma das mais importantes para o país, uma valorização que me parece ainda mais necessária neste período de crise económica onde se discute a enorme falta de investimento na produção nacional nas últimas décadas. Mas também deixo algum espaço para que a peça possa ser assimilada e interpretada por cada um à sua maneira, visto ser esse lado pessoal que a completa e lhe dá o significado final.

Qual o destino desta obra?

Caso não seja adquirida pelo município de Santa Maria da Feira a peça será transportada para o meu acervo e ficará na minha colecção pessoal.

Depois desta experiência podemos considera-lo “embaixador” da cortiça? Ou seja vai aconselhar a utilização deste material a outros artistas?

Embaixador é uma designação forte. Mas, sem dúvida, que o irei recomendar e até tentar criar um programa de residência de artistas nas fábricas para que o possam explorar. Fiquei muito motivado. Vamos ver se será possível.

Numa “palavra” o que diria sobre cortiça?

Maleável.

Perfil

Alexandre Farto tem desenvolvido a sua obra no meio urbano sob o nome de Vhils, desde que se iniciou nos graffiti, no início da década de 2000. Nasceu em Lisboa em 1987 e cresceu no Seixal, região com grande tradição industrial, e foi fortemente influenciado pelo intenso desenvolvimento que transformou Portugal nas décadas de 1980/1990. Reside entre Portugal e Londres, onde trabalha na Galeria Lazarides.

Um ávido experimentalista, tem desenvolvido a sua estética do vandalismo” em intervenções e exposições individuais e colectivas, um pouco por todo o mundo, numa pluralidade de suportes – da pintura stencil à técnica de escultura mural – que o projectou como um dos nomes mais aclamados no panorama da arte urbana mundial.

As suas peças de rua são facilmente identificáveis, pois esculpe grandes rostos e skylines de cidades no próprio revestimento da parede que lhe serve de suporte. Tem obras em Portugal, Inglaterra, Itália, Rússia, Colômbia e EUA e participou nos festivais internacionais mais destacados, como o The Cans Festival (Londres), FAME Festival (Grottaglie, Itália) ou NuArt (Stavanger, Noruega). No trabalho de galeria utiliza diversos materiais: papel, madeira, meta, colagens, instalações e vídeo. É considerado um dos melhores street-artist do panorama internacional actual.

Foto de capa por: Rui Soares

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