Entrevista Frederico Martins
Houvesse mais produtos como a cortiça e a nossa ecologia seria melhor – Frederico Martins, fotógrafo
Sendo natural de Santa Maria da Feira, qual a sua ligação com a cortiça? Há algum negócio na família relacionado com esta matéria-prima?
Existe de facto uma coincidência muito curiosa no meu caso, a minha família não é originalmente de Santa Maria da Feira, viemos para cá viver quando saímos de África. Mas a minha avó materna é algarvia de Silves e filha de um industrial corticeiro dessa cidade, que antes de Santa Maria da Feira, detinha o título de pólo corticeiro nacional. Esse meu bisavô foi vítima, digamos assim, do sucesso dos industriais do nosso concelho e acabou por fechar o seu negócio tal como a quase totalidade das corticeiras da sua região. Foi uma total coincidência o facto da minha família ter vindo viver para o concelho e eu ter nascido aqui!
Algumas “marcas” que a indústria da cortiça lhe tenha deixado na sua infância/adolescência? Alguma experiência/história que queira revelar?
Talvez apenas a incrível paisagem do montado de sobro nas viagens de família ao Algarve. Como temos família lá as viagens eram algo frequentes e para quem conhece, a paisagem alentejana na primavera é absolutamente fantástica.
No seu trabalho como fotógrafo já alguma vez contactou com a cortiça? Ou sugeriu a sua utilização em alguma circunstância?
Directamente relacionado com o meu trabalho não, mas faço sempre pedagogia, principalmente com manequins e equipas estrangeiras com quem trabalho, para a importância de optarem por produtos de cortiça, principalmente as rolhas. Não faz sentido hoje optar-se por vedantes sintéticos ou cápsulas quando existe um vedante natural, biodegradável e amigo do ambiente, como é o caso da cortiça. Como gosto de vinho acabo por levar muita gente para esta discussão.
Como foi a experiência de apadrinhar três sobreiros?
Única. Não estava à espera, mas acaba por fazer sentido. Eu como ecologista convicto, licenciado em agronomia, tenho os temas ambientais muito presentes e a cortiça é um daqueles raros exemplos de um produto agrícola, não alimentar, que tem uma utilização quotidiana multi-disciplinar vastíssima, e que ao mesmo tempo permite a preservação de um ecossistema natural como é o caso do montado de sobro. Houvesse mais produtos como a cortiça e a nossa ecologia seria certamente melhor.
Qual a sua opinião sobre a iniciativa da AR em elevar o Sobreiro a símbolo nacional?
Apenas peca por tardia, sem dúvida que o sobreiro merece todo a nossa estima e admiração.
Como feirense e português, qual é a sua visão sobre a cortiça?
Um produto extraordinário, uma verdadeira dádiva da natureza, que nós portugueses tivemos a visão de aproveitar como ninguém. Tenhamos nós a capacidade para a promover e elevar a sua imagem ao patamar de excelência que ela merece ter.
Que mensagem deixaria aos portugueses sobre esta matéria?
Que devem optar por produtos de cortiça sempre que possível.
Perfil
Frederico Martins é engenheiro agrónomo de formação, mas fotógrafo por paixão. Cresceu em Santa Maria da Feira, e aos 18 anos, depois de uma experiência proveitosa em Angola, recebeu um prémio internacional em Paris. Seguiu-se o Fotojornalismo e a Moda, esta última valeu-lhe o Prémio Fotógrafo Revelação. Em 2011 e 2012, foi nomeado como o melhor fotógrafo de moda português, com o prémio “Fashion Awards” By Fashion TV. Actualmente, Frederico Martins é um nome central da Fotografia de moda nacional.
O seu trabalho já passou por revistas como Dsection, Vogue Italia, Vogue Portugal, Vogue India, Vogue Ukrain, Myself Germany, Elle Portugal, Elle Indonesia, Maxim USA, Maxima, GQ Portugal entre outras.