Sobreiro

A Árvore da Cortiça

O sobreiro é a única espécie vegetal capaz de produzir cortiça de forma sustentável e com a máxima qualidade, que garante uma indústria única no mundo, e que é vital na manutenção do montado e na preservação da fauna e flora. É uma árvore com casca volumosa de tecido suberoso (a cortiça), tem folhagem verde todo o ano e pode ter um porte natural de 10 a 15 metros de altura, no caso de um sobreiro adulto. Tem uma grande longevidade e uma enorme capacidade de regeneração.

Uma árvore especial

É uma espécie típica na região mediterrânica ocidental e pode viver, em média, 200 anos, apesar dos descortiçamentos que lhe fazem ao longo da sua existência: mais de 15 intercalados por períodos de nove anos. É uma árvore que tem a folhagem verde durante todo o ano e realiza a fotossíntese durante mais tempo do que é possível às árvores caducifólias que perdem as folhas durante o inverno. Os sobreiros têm folhas reativas à secura com poros que se fecham e reduzem as perdas de água por transpiração durante o tempo seco.

O sobreiro é uma espécie bem adaptada ao clima mediterrânico, caracterizado por períodos de seca estival e invernos amenos – com temperaturas entre os -5ºC e 40ºC -, com uma precipitação mínima anual de 400 mm e máxima de 1700 mm, e pode ter um solo com um pH entre 4,8 e 7,0.

Particularidades

O sobreiro é, também, conhecido como Quercus suber L. por pertencer à família dos carvalhos, integrando um subgrupo que engloba as espécies europeias e asiáticas – o grupo Cerris. Uma das particularidades mais interessantes do sobreiro é a produção de uma casca exterior homogénea, formada por um tecido elástico, impermeável e isolante térmico: a cortiça. O processo de adição de anéis anuais de cortiça faz-se a partir da atividade de um conjunto de células mãe, o felogénio. A homogeneidade da cortiça resulta do felogénio do sobreiro se manter em atividade durante toda a vida da planta, em contraste com as outras árvores, onde o felogénio é descontínuo e tem uma duração anual. A cortiça pode ser extraída, sem danificar a árvore, voltando a ser regenerada.

Nada se desperdiça no sobreiro. O seu fruto, a bolota, é utilizado para a propagação da própria árvore, como alimento de certos animais e no fabrico de óleos culinários. As folhas são usadas como fertilizante natural e como forragem. Lenha e carvão vegetal são materiais que resultam da poda. E os ácidos naturais encontrados na madeira do sobreiro fazem parte da composição de produtos de beleza e de produtos químicos.

Curiosidades

O sobreiro é património nacional em Portugal. Está legalmente protegido desde a Idade Média e o seu abate é proibido. O sobreiro é Árvore Nacional de Portugal desde dezembro de 2011. A decisão foi tomada por unanimidade na Assembleia da República depois da apresentação de um projeto de resolução, que teve o apoio de uma petição que recolheu mais de 2.000 assinaturas. O relevante papel do sobreiro, árvore que muito dá e pouco pede, é assim reconhecido e valorizado pelo Parlamento português.

Para comemorar o primeiro aniversário da elevação do sobreiro a Árvore Nacional de Portugal foi plantado um exemplar da espécie nos jardins da Assembleia da República – apadrinhada pelo escritor português José Luís Peixoto. Para celebrar o terceiro aniversário foram plantados três sobreiros num jardim em Lourosa/Santa Maria de Lamas, desta vez apadrinhados pelo fotógrafo de moda Frederico Martins.

O sobreiro é considerado pela WWF como das espécies mais ameaçadas e emblemáticas de Portugal.

Em 2018, o sobreiro de Águas de Moura, Palmela, mais conhecido por “Whistler Tree” (O Assobiador), foi eleito a Árvore Europeia do Ano.

Proteção à Espécie

A legislação nacional e regional em Portugal protege os montados e proíbe o abate não autorizado de árvores. Os sobreiros só podem ser cortados se estiverem mortos ou doentes e, mesmo assim, só com autorização por escrito das autoridades.

A legislação aplica pesadas multas por danos ou gestão não adequada das árvores e estabelece regras rigorosas, regulamentando o descortiçamento e a manutenção das árvores. Regras que estabelecem, por exemplo, que uma árvore jovem só pode ser descortiçada quando alcançar cerca de 25 anos de idade e o seu perímetro tiver pelo menos 70 cm de diâmetro, a 130 cm de altura. Outra regra é que a casca de cortiça não pode ser descortiçada acima de uma altura igual ao dobro do perímetro do tronco, no primeiro descortiçamento, ou ao triplo, no máximo, para uma árvore adulta em plena produção. Também não é permitido extrair cortiça dos ramos de árvores adultas, se esses tiverem um diâmetro inferior a 70 cm. Em todos os casos, é absolutamente proibido colher a cortiça a uma frequência inferior a 9 anos (mesmo que uma árvore individual esteja pronta a ser descortiçada antes de terminar esse período). Há leis que regulamentam a lavoura do solo à volta das árvores, a poda correta, e multas por negligência e má gestão.

A Casca do Sobreiro

A cortiça é a casca do sobreiro. É um tecido vegetal que na botânica se chama de felema e que faz parte do sistema da periderme (pele) que reveste o caule/tronco da árvore. É um material 100 % natural, reciclável, reutilizável e renovável. Possui qualidades únicas, inigualáveis e que até hoje nenhum engenho humano conseguiu imitar ou ultrapassar.

Como se forma

O processo de adição de anéis anuais de cortiça faz-se a partir da atividade de um conjunto de células mãe – o felogénio. A homogeneidade da cortiça resulta do felogénio do sobreiro se manter em atividade durante toda a vida da planta. A particularidade da casca do sobreiro é ter a camada externa constituída por células suberizadas, formando um tecido homogéneo, elástico, impermeável e bom isolante térmico que é a cortiça.

Quando se extrai a cortiça, no final da primavera e no verão (ou seja meados de maio até meados de agosto), é fundamental que o felogénio esteja ativo e que se continue a dividir, o que depende da árvore se encontrar em bom estado hídrico e o clima permitir (se estiver vento ou chover, a cortiça não sai da árvore). É nessas condições que a cortiça pode ser tirada da árvore sem que esta seja danificada. Após a extração, o felogénico seca mas, por baixo, forma-se uma nova camada felogénica. Para se extrair a cortiça não é necessário cortar a árvore.

A produção mundial de cortiça ultrapassa as 200 mil toneladas por ano. Nesta área, Portugal e Espanha conseguem uma liderança mais destacada do que têm em termos de área florestal do sobreiro, representando, em conjunto, mais de três quartos da produção mundial. Portugal continua a liderar a produção mundial de cortiça com uma produção média anual de mais de 100 mil toneladas.

País Produção anual (toneladas)* Percentagem
Portugal 85.145 46
Espanha 61.504 33
Marrocos 11.686 6
Argélia 9.915 5
Tunísia 6.962 4
Itália 6.161 3
França 5.200 3
Total 186.573 100

* Fonte: FAO (2010) e Agro.Ges (2019)

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